Variações de Ferenczi sobre a pulsão de morte

Autores

  • Eugênio Canesin Dal Molin Instituto Sedes Sapientiae
  • Nelson Ernesto Coelho Junior Universidade de São Paulo
  • Renata Udler Cromberg Instituto Sedes Sapientiae

Palavras-chave:

Sándor Ferenczi, pulsão de morte, destrutividade, metapsicologia, história da psicanálise

Resumo

Este artigo teórico discute três variações da pulsão de morte, desenvolvidas por Sándor Ferenczi. Apresentamos uma breve história do uso do termo pulsão de morte entre os primeiros psicanalistas e argumentamos que, já em 1913, a noção é usada por Ferenczi e serve como pano de fundo conceitual para o seu pensamento. Durante a década de 1920, Ferenczi revisita parte desse conceito, centrando-se no que ele identifica como um primado da autodestruição. A pulsão destrutiva ganha um caráter adaptativo responsável pela mortificação de partes do indivíduo, em troca da sobrevivência do todo. Nessa variação, a tendência para a regressão surge também como a pulsão de autodestruição, e a aceitação do desprazer envolve uma “máquina de calcular” psíquica. Na última variação, deixada inacabada, a pulsão de morte recebe por vezes novos nomes, como pulsão de “conciliação”, e noutras, a própria ideia de pulsão de morte é criticada.

Este artigo é o resultado de um trabalho conjunto de pesquisa, discussão e escrita, e tem um percurso que cabe mencionar. O texto foi apresentado por Eugênio Canesin Dal Molin no I Encontro do Grupo Brasileiro de Pesquisas Sándor Ferenczi, realizado em São Paulo nos dias 7 e 8 de junho de 2019; no mesmo ano, as seções “As bases de um conceito” e “A primeira variação” foram publicadas junto de uma apreciação crítica dessas ideias iniciais na revista Estilos da Clínica, e, no ano seguinte, no livro Ferenczi: inquietações clínico-políticas. O texto original da fala, entretanto, com a apresentação abrangente das ideias de Ferenczi sobre a pulsão de morte (que abarca o período entre 1913 e 1932) seguiu para revistas internacionais e permanecia inédito até 2023, quando saiu em inglês no American Journal of Psychoanalysis. Este texto corresponde à fala de 2019 e à versão publicada pela revista americana.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Eugênio Canesin Dal Molin, Instituto Sedes Sapientiae

É psicanalista e membro do Depto. de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae. É membro do Conselho Editorial da Percurso e dos grupos de trabalho Comunidade de Destino e Discussões Clínicas. Mestre e doutor no IPUSP. É membro fundador do Grupo Brasileiro de Pesquisas Sándor Ferenczi (GBPSF) e professor de curso Teoria Psicanalítica (COGEAE/PUC-SP).

Nelson Ernesto Coelho Junior, Universidade de São Paulo

É psicanalista. Professor e pesquisador do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.

Renata Udler Cromberg, Instituto Sedes Sapientiae

É psicanalista, membro do Depto. de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, onde é interlocutora do Grupo Winnicott – Estudos e Pesquisa, e membro do grupo de estudos Comunidade de Destino – Ferenczi e Freud. Doutora e pós-doutora pelo IPUSP. Professora convidada do curso de Teoria
Psicanalítica do COGEAE/PUC-SP. É graduada em Psicologia e Filosofia pela Universidade de São Paulo. Membro do Grupo Brasileiro de Pesquisas Sándor Ferenczi e da Associação Internacional de Estudos sobre Spielrein. Autora dos livros Paranoia, cena incestuosa – abuso e violência sexual (Artesã) e Sabina Spielrein, uma pioneira da psicanálise, obras completas, v. 1 e v. 2 (2. ed., Blucher, 2021).

Referências

Adler A. (1908). Der Aggressionstrieb im Leben und in der Neurose. Fortschritte der Medizin, n. 26, p. 577-584.

Avello J.J. (2006). La isla de sueños de Sándor Ferenczi. Nada más que pulsión de vida. Madrid: Biblioteca Nueva.

Brabant E.; Falzeder E.; Giampieri-Deutsch P. (eds.) (1993). The correspondence of Sigmund Freud and Sándor Ferenczi: Volume I, 1908-1914. Cambridge/London: The Belknap Press of Harvard University Press.

Brabant E. Falzeder E. (eds.) (2000). The correspondence of Sigmund Freud and Sándor Ferenczi: Volume III, 1920-1933. Cambridge/London: The Belknap Press of Harvard University Press.

Bos J. (1996). Rereading the minutes. Annual of Psychoanalysis, v. 24, p. 229-255.

Bos J.; Groenendijk L. (2007). The self-marginalization of Wilhelm Stekel: Freudian circles inside and out. New York: Springer Books.

Clark-Lowes F. (2010). Freud’s Apostle: Wilhelm Stekel and the early history of Psychoanalysis. Authors OnLine: Gamlingay.

Cromberg R.U. (org.). (2014). Sabina Spielrein: Uma pioneira da psicanálise, vol. 1. Trad. R.D. Mundt. São Paulo: Matriz.

Dal Molin E.C.; Coelho Jr. N.; Cromberg R.U. (2019). A pulsão de morte no primeiro Ferenczi: quietude, regressão e os primórdios da vida psíquica. Estilos da Clínica, v. 24, n. 2, p. 231-245. Disponível em: <https://dx.doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v24i2p231-245>.

____ (2023). Ferenczi’s variations on the death drive. The American Journal of Psychoanalysis, v. 83, p. 231-249. Disponível em: <https://doi.org/10.1057/s11231-023-09407-9>.

Eros F.; Szekacs-Weisz J.; Robinson K. (eds.) (2013). Sándor Ferenczi – Ernest Jones. Letters 1911-1933. London: Karnac.

Ferenczi S. (1913). O desenvolvimento do sentido de realidade e seus estágios. In Psicanálise II. Trad. A. Cabral. São Paulo: Martins Fontes, p. 45-61. (Trabalho original publicado em 1913).

____ (1924). Thalassa: ensaio sobre a teoria da genitalidade. In Psicanálise III. Trad. A. Cabral. São Paulo: Martins Fontes, p. 277-357. (Trabalho original publicado em 1924).

____ (1923). Prefácio da edição húngara de Para além do princípio do prazer. In Psicanálise III. Trad. A. Cabral. São Paulo: Martins Fontes, p. 241-242. (Trabalho original publicado em 1923).

____ (1926). Para o 70o aniversário de Freud. In Psicanálise III. Trad. A. Cabral. São Paulo: Martins Fontes, p. 421-430. (Trabalho original publicado em 1926).

____ (1926). O problema da afirmação do desprazer. In Psicanálise III. Trad. A. Cabral. São Paulo: Martins Fontes, p. 431-444. (Trabalho original publicado em 1926).

____ (1928). A adaptação da família à criança. In Psicanálise IV. Trad. A. Cabral. São Paulo: Martins Fontes, p. 1-16. (Trabalho original publicado em 1928).

____ (1929). A criança mal acolhida e sua pulsão de morte. In Psicanálise IV. Trad. A. Cabral. São Paulo: Martins Fontes, p. 55-60. (Trabalho original publicado em 1929).

____ (1930). Princípio de relaxamento e neocatarse. In Psicanálise IV. Trad. A. Cabral. São Paulo: Martins Fontes, p .61-78. (Trabalho original publicado em 1930).

____ (1930-1932). Notes and fragments. In Final contributions to the problems and methods of Psycho-Analysis. (M. Balint, ed.). London: Karnac, p. 216-279.

____ (1933). Confusão de línguas entre os adultos e a criança – a linguagem da ternura e da paixão. In Psicanálise IV. Trad. A. Cabral. São Paulo: Martins Fontes, p. 111-121. (Trabalho original publicado em 1933).

____ (1932/1988). The clinical diary of Sándor Ferenczi ( J. Dupont, ed.; M. Balint; N.Z. Jackson, trads.). Cambridge, MA: Harvard University Press.

Figueiredo L.C. (1999). Palavras cruzadas entre Freud e Ferenczi. São Paulo: Escuta.

Figueiredo L.C.; Coelho Junior, N.E. (2018). Adoecimentos psíquicos e estratégias de cura. Matrizes e modelos em Psicanálise. São Paulo: Blucher.

Fortune C. (ed.) (2002). The Sándor Ferenczi – Georg Groddeck Correspondence, 1921-1933. London: Open Gate Press.

Freud S. (1909/2015). Análise da fobia de um garoto de cinco anos: O pequeno Hans. In Obras completas, vol. 8. São Paulo: Companhia das Letras, p. 123-284. (Trabalho original publicado em 1909).

____ (1911/2010). Formulações sobre os dois princípios do funcionamento psíquico. In Obras completas, vol. 10. São Paulo: Companhia das Letras, p. 108-121. (Trabalho original publicado em 1911).

____ (1920/2010). Além do princípio do prazer. In Obras completas, vol. 14. São Paulo: Companhia das Letras, p. 161-239. (Trabalho original publicado em 1920).

____ (1930). Civilization and Its discontents. Standard Edition, vol. 21, p. 64-145.

Gondar J. (2017). A vontade de (se) destruir: Ferenczi com Nietzsche. In Reis E.S.; Gondar J., Com Ferenczi: clínica, subjetivação, política. Rio de Janeiro: 7 Letras, p. 65-77.

Herzog R.; Pacheco-Ferreira F. (2015). Trauma e pulsão de morte em Ferenczi. Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica, v. 18, n. 2, p. 181-194. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1516-14982015000200002>.

Houaiss A.; Villar M.S. (2009). Dicionário Houaiss da língua portuguesa: com a nova ortografia da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva.

Mezan R. (2002). Do autoerotismo ao objeto: a simbolização segundo Ferenczi. In Interfaces da psicanálise. São Paulo: Companhia das Letras, p. 151-173.

Mezan R. (2013). Freud: a trama dos conceitos. 5. ed. São Paulo: Perspectiva.

Nunberg H.; Federn E. (eds.). (1976). Les premiers psychanalystes : Minutes de la Société Psychanalytique de Vienne, v. 1. Trad. N. Schwab-Bakman. Paris: Gallimard.

Stekel W. (1911). Die Sprache des Traumes. Wiesbaden: Bergmann.

Stekel W. (1912). Der Zweifel. Zeitschrift für Psychotherapie, v. 4, n. 6, p. 332-355.

Downloads

Publicado

30-11-2023

Como Citar

Molin, E. C. D., Coelho Junior, N. E., & Cromberg, R. U. (2023). Variações de Ferenczi sobre a pulsão de morte. Percurso, 35(71), 61–74. Recuperado de http://percurso.openjournalsolutions.com.br/index.php/ojs/article/view/1444

Artigos mais lidos pelo mesmo(s) autor(es)

1 2 3 > >>