Uma lente de aumento sobre o feminino no século XXI
Resumo
Não há dúvida de que neste século a mulher protagonizou mudanças importantes no cenário sócio-político ocidental, cuja extensão nem sempre é fácil dimensionar. O acesso ao controle da procriação, por exemplo, revolucionou os registros da sexualidade, do casamento e da família. Por outro lado, há grandes divergências entre os psicanalistas quanto ao alcance dessas transformações na constituição subjetiva do feminino. A II Jornada Temática – Interlocuções sobre o feminino na clínica, na teoria, na cultura, realizada em maio de2007 pelo Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, reuniu trabalhos com o propósito de debater e refletir sobre o teor dessas mudanças, utilizando e questionando o instrumental teórico da psicanálise. No intuito de prosseguir as discussões ali suscitadas, pedimos a alguns colegas que respondessem à seguinte questão: A progressiva conquista de espaço público trouxe uma infinidade de ganhos para a mulher, mas exigiu-lhe mudanças em sua posição subjetiva, criando novos impasses e conflitos na construção de sua sexualidade, já marcada pelo difícil desligamento da figura materna e pela conquista do amor paterno. Até que ponto devemos concordar com André Green, o qual, em seu artigo “Agressão, feminilidade, paranóia, realidade” [1], afirma que “Embora o acesso conquistado pelas mulheres a atividades anteriormente restritas a homens tenha atenuado as diferenças entre os sexos no âmbito social, num nível mais amplo tal diminuição revela-se como superficial. É preciso levar em conta o que Freud disse acerca do ‘repúdio à feminilidade’ presente em ambos os sexos”. Nos textos que se seguem, temos quatro elaborações a respeito desse tema.